Eles viveram tempos diferentes do oficialato e guardam memórias históricas da carreira, que sedimentam o atual momento vivido pelos oficiais e oficialas de Justiça. Nesta segunda-feira, 17 de junho, é celebrado o Dia do Servidor Público Aposentado e entrevistamos servidores que ajudaram a construir o legado da profissão e compartilham lembranças e histórias curiosas de suas jornadas.
Moadia Gonçalves, 73, ingressou na Justiça Federal em 1980 e se aposentou em 2018. Sua história na Justiça acompanhou as mudanças da cidade. Quando começou a trabalhar, não tinha carro, então entregava os mandados de ônibus. “Tinha lugares que eu achava longe, como o setor Bueno, e que hoje fazem parte da região central da cidade.” E rodando de ônibus, sem celular, muitas vezes acabava esperando na porta o intimado chegar, algumas dela na chuva.
O primeiro carro veio no segundo ano de trabalho. Ela ainda se lembra do modelo: um fusquinha branco usado, que o sobrinho a ajudou a comprar. Foi nele que ela aprendeu a dirigir. Depois vieram outros carros e outras modernidades. Mas Moadia fica feliz por não ter precisado acompanhar tanto as modernidades trazidas pela internet e que se aposentou antes disso.
Moadia garante que gostou demais de trabalhar como oficiala, mas achava muito difícil quando o objetivo final era a penhora de um bem. “Mas nunca tive problema. Valeu a pena cada ano trabalhado na Justiça Federal. Tem pessoas que se escondem, mentem, até ameaçam a gente assim. Mas eu nunca fiquei apavorada, sempre me coloquei no lugar da pessoa, falei com a calma e educação que quero que falem comigo”, explica.
Foi com este jeito simples que certa vez ela entregou uma intimação para um governador do estado. Ela foi até o Centro Administrativo e de lá a levaram ao Palácio, onde foi recebida pelo governante, se cumprimentaram com um aperto de mão e ela comentou com ele: “O senhor é mais baixo do que na televisão.” O que, claro, arrancou risada do governante intimado.
Nos anos em que trabalhou na Justiça, Moadia fez muitos amigos, uma família da qual demorou a se desapegar. Talvez por isso demorou tanto a se aposentar. Sempre morou com a mãe e, depois da sua partida, agora curte os sobrinhos e sobrinhos-netos, cuida da saúde fazendo pilates e viajando sempre que pode.
Mudanças
Outro que testemunhou as mudanças na Justiça foi Nivaldo Soares de Brito, que ingressou em 1996 no Tribunal Regional do Trabalho e só saiu em 2014. Antes disso, trabalhou em farmácia, hotel e com a própria advocacia e conta que sempre gostou de ter contato com gente, o que a execução dos mandados o permitiu continuar vivendo. Mineiro, se mudou para Goiás com a esposa Liliane, dois filhos e aqui criou raízes.
Em Goiânia, sentiu a diferença na nomenclatura das ruas, e sem GPS, era com um mapa de papel que ele achava cada endereço. “Estranhei o trânsito. Rua e número, quadra e lote, não tem em Minas, o endereçamento é diferente.” Mas o coração e o jeito do goiano, esses ele achou parecidos. Agora só volta ao estado natal duas vezes por ano, de férias.
Em quase vinte anos de Judiciário, viveu muitas experiências diferentes. Tantas, que chegou a dar conselhos para um intimado. “Um dia eu cheguei para um empresário assinar uma intimação, ele assinou e devolveu o papel, depois contou os problemas do funcionário dele, deu conselhos de vida, falou por mais de 20 minutos e depois agradeceu. Disse que ser ouvido tinha melhorado o dia dele”, fala Nivaldo.
E foi assim que Nivaldo conta que a cada citação ou execução buscava manter o alto astral e a seriedade. Do tempo na ativa, guarda amizades e boas memórias, hoje cuida de uma chácara da família e sempre que pode comparece aos eventos da ASSOJAF-GO para rever os amigos.
Desafios
Mauralice Izabel Fernandes trabalhou como oficiala de Justiça, atuando no Tribunal Regional do Trabalho de 1997 a 2018. Para ela, foi uma temporada de grandes experiência, o que significa ter enfrentado um “judiciário ainda precário e até arma na cara”.
Logo que assumiu o cargo, ela ingressou na ASSOJAF-GO e chegou a presidir a entidade. Acredita que a luta para melhorar a carreira foi e é necessária. Ela lembra que quando começou, umas das partes mais difíceis eram as prisões de depositários infiéis, em que o oficial acompanhava o citado até a cela na Casa de Prisão Provisória.
Em uma dessas, ela acompanhou uma senhora até a prisão. Depois, condoída pela situação dela, voltou para ficar com seus filhos pequenos até que o conselho pudesse encaminhá-los. “Para mim, o envolvimento emocional sempre foi a parte mais difícil. Muitos amigos me chamavam de Madre Teresa”, conta Mauralice. E não era à toa, muitas vezes ela atendeu pessoas fora do trabalho para ajudar em causas praticamente perdidas.
Aposentada, hoje ela divide o tempo entre Portugal, país natal do marido, e o Brasil e sente muita falta dos amigos. Ela faz crochê, se dedica às artes plásticas e a uma filha de quatro patas. Não descarta o regresso à atividade sindical para lutar pelos direitos dos oficiais aposentados. “Temos que pensar que a velhice vai chegar para todos.” E com o recado dela, a gente lembra que são estes pioneiros que tornaram os oficiais de justiça uma carreira valorizada e com tantas conquistas.
Assessoria de Comunicação da ASSOJAF-GO | Ampli Comunicação
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